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Crônica da minha vida, por Sr Gomide Empty Crônica da minha vida, por Sr Gomide

Sex Out 20 2017, 13:46
Crônica da minha vida, por Sr Gomide Sr-gom10

Sr Gomide, 103 anos, casou-se mais tarde, com 45 anos. Esposo dedicado e cuidadoso. Hoje, viúvo, dentre as saudosas histórias do casamento, gosta de relembrar de sua infância e sua vida de tropeiro em Minas. Em um de nossos encontros pedi a ele que me contasse mais detalhes desse seu pedaço de vida. Então, com uma ajudinha para organizar a infinitas memórias, ajudei o Sr Gomide a escrever uma crônica da infância à vida de tropeiro:

Minha infância foi muito boa. Eu era o mais novo da turma. Meu pai era juiz de paz. Minha mãe ficava por conta dos filhos. Tiveram 4 filhas moças. Primeiro veio a Maria, depois veio a Ranufa, depois veio uma que morreu com 8 anos. A outra também morreu com poucos meses. Mais 2 também morreram, ao todo 4! Daí veio a Dalva, Conceição, Moacir e eu. Hoje não tenho nenhum irmão vivo. Sou o último!

Das brincadeiras, gostava quando “pititin” (pequenino) era de saltar a cerca pra brincar na  casa do vizinho e de jogar bola.

Na verdade não tinha tanto tempo pra brincadeira pois menino ajudava o pai enquanto as meninas ajudavam a mãe…

Depois de crescido fui pra roça. O trem levou nossa mobília de mudança, quando eu tinha 4 anos.A gente foi num expresso e a mobília, num vagão.sr-gomide2

Neste dia quando chegamos na estação ela estava fechada e então tivemos que dormir por ali mesmo… A Filhinha levou lençóis e foi a sorte!

Um dia, aos 5 anos de idade, estava na enxurrada e a Aspásia,  irmã de minha madrinha de representação, me disse: “Zezé, num fica na enxurrada não! Eu te dou um doce pra sair daí…”. Mas o meu apelido é “Tadanado” porque eu e o Moacyr ficávamos falando assim: “tá danado!”. Não sei direito porque, acho que é por causa das meninas…



Minha Vida de Tropeiro

Antes de vir pra BH fiquei com Moacir, meu irmão mais velho. Ele mexia com lavoura e eu com o gado. Mais ou menos aos vinte e poucos anos iniciei minha vida de tropeiro, que durou cerca de 10 a 15 anos. Eu tinha experiência em vender gado. A gente aprende comprando gado. Como eu comprava gado?

O gado ficava no alto do morro, pra ficar bonito e então mandava “tocar” pro gado andar e a gente ver. Trocava a troco de burro nas cidades de Tuberaba, Guará… Eu morava em Conquista, no triângulo mineiro. Gado que aparecia as costelas eu não comprava. Só gado gordo.

Eu andava no lombo de burro pra vender gado até no estado de São Paulo, Paraná e Goiás. Eu tinha o apelido de “Tropeirinho”. Éramos 4. A tropa tinha cozinheiro e tudo: peão e capataz também. O peão guia o gado e o capataz gerencia tudo. Eu tomava conta do negócio mas tinha um capataz que gerenciava tudo pra mim e trabalhava na sua mula. A cozinha e o cozinheiro recebiam um burro próprio. Minha irmã preparava os mantimentos pra viagem. A carne tinha que ser comprada durante a viagem pra não estragar, bem como o leite. Os temperos, eu não sei o que o cozinheiro usava mas ele tinha o jeito dele de cozinhar. A bruaca, o baú, o fogãozinho e as panelinhas, o machado pra cortar a lenha, os pratos esmaltados. Ele fazia comida na parada onde houvesse água.  O machado era grande com cabo pequeno pra cortar lenha. Em alguns ranchos havia placa escrito “TROPEIRO” onde era a parada do tropeiro. O cozinheiro, Abrão,era muito bom e fiel. Ele tomava conta do dinheiro que era guardado na bruaca, junto com roupas e outras coisas. O cozinheiro quando matava o boi, fazia do seu couro uma espécie de manta para cobrir tudo. As bruacas se equilibravam no lombo do burro. Às vezes iam uns 500 bois na viagem. Vendia boi e comprava burro. Era um “negócio de burro” mas era um negócio “bão”! Moacir meu irmão vivia dizendo “isso do Zé né vida não”!  No mundo inteiro não existe uma mata como a nossa que vai de Minas até São Paulo. Hoje, ao invés de tocar boi, coloca tudo no vagão como na Mogyana (uma locomotiva), em Uberaba.



A Tropa

A tropa era formada por 4 homens: o capataz que vigia e gerencia o trabalho da tropa. O cozinheiro acompanhava a turma para ficar por conta da alimentação e economias.

O peão tomava conta e tocava o gado com uma berrete e o burro da frente carregava o sinserro. Eu ia junto apesar de não precisar.
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